terça-feira, 21 de setembro de 2021

Governos tiranos e os professores

 Em 1952, a histeria anti-comunista tomou conta dos EUA. Era a segunda vez que isto acontecia. O alvo eram os professores. No final do seu mandato, Truman passou lei dizendo que comunistas não poderiam ser professores. Apenas o sindicato reagiu. Mais de 1500 professores em todo o país foram demitidos. Na maioria dos lugares, bastava a palavra do diretor ou de alguém da comunidade para caracterizar o docente como comunista. Em NY, o sindicato resolveu resistir e exigiu processos com direito de defesa. Dois casos impressionam. Uma professora, de origem judaica, acusada de comunismo, foi descrita por seu diretor como "tendo uma imensa capacidade de ensinar o marxismo-leninismo com bloquinhos de madeira com letras". Ela era alfabetizadora. E começou a receber cartas da comunidade com os dizeres "comunismo é judeu e judeus não são bons americanos" ou "hitler estava certo!". Quando recebeu o veredicto, a professora se suicidou. O comitê investigativo usou o suicídio como prova da culpa e da competência das investigações. Outro caso, outra professora, desta vez trabalhava no Harlem. A comunidade negra se mobilizou em sua defesa. Testemunhos diziam que nenhum professor tinha o cuidado e a paciência de Bella Dodd para ensinar as crianças negras. O comitê usou isto como prova de que ela era comunista. Entre as "provas" tinha o depoimento de um carteiro informando que via seguidamente Bella nas áreas mais pobres do Harlem "perguntando por e ajudando crianças, inclusive doando roupas no inverno". O carteiro completou dizendo que achava isto "bem comunista".

Nos anos 50 a CIA, em memorandos internos, reclamava que o custo para infiltrar agentes no mundo soviético era muito alto e que todos eles eram descobertos e mortos. Entretanto, o comunismo exercia "uma papel mágico no encantamento dos americanos, sobretudo os mais bem formados". Segundo a CIA "todo professor é um espião soviético em potencial" e "quanto mais estudado mais vulnerável". Professores com doutorado eram quase certamente espiões.

Não é a primeira vez que a burrice e a ignorância torcem os discursos para se fazerem superiores. Nos EUA, consciência social e trabalho pelos mais pobres era prova de "comunismo" e os mais bem formados inclinarem-se pelo comunismo não era prova da correção ou mesmo de viabilidade destas ideias, mas a demonstração da "mágica" comunista e um argumento contra a ciência e os intelectuais.

Todo regime de ignorantes ataca essencialmente professores, universidades, as artes e a história. Atacam irracionalmente e usam a irracionalidade como argumento de defesa contra a ciência e a lógica. Estamos vendo tudo isto de novo.

- Texto de Fernando Horta

terça-feira, 27 de abril de 2021

EDUCAÇÃO NA MIRA DO FUNDAMENTALISMO: UM DESAFIO PARA OS QUE LUTAM POR GÊNERO E DIVERSIDADE NAS ESCOLAS

 


 

Por Gabriel Augusto

Professor de Geografia, Doutorando pela UFPE

 

                As escolas aparecem no relato de pessoas LGBTQIA+ retratadas como espaços onde somos atingidos pelas mais variadas formas de violência. A piada do professor, a discriminação dos colegas de sala, o desrespeito da identidade de gênero nas listas de frequência, na restrição ao uso do banheiro e mesmo a agressão física fazem parte da rotina. Estudantes LGBTQIA+ passam a viver o espaço escolar não como um lugar de aprendizagem, mas de sofrimento.

                Relatos como estes podem ser vistos no documentário “Se essa escola fosse minha”, onde pessoas LGBTQIA+ de várias idades relatam suas experiências com a escola a partir da sua posição dissidente em relação aos padrões cis-heteronormativo. A geógrafa feminista Joseli Silva utiliza a expressão espaço interdito para falar dos lugares em que são vividos sofrimento e exclusão para comunidade LGBTQIA+, inviabilizando que esta ali permaneça. Mais uma vez a escola é apontada como lugar hostil para nossas vidas.

                Com base nesses relatos, deveríamos estar pensando no que fazer para combater a lgbtfobia no espaço escolar. Essa violência prejudica não só a qualidade dos processos educativos, mas contribui para a evasão que reforça a exclusão futura no mundo do trabalho. Contudo, o que temos visto crescer nos últimos anos é busca sistemática do fundamentalismo religioso cristão de impedir que na escola sejam debatidos temas como sexualidade e as relações de gênero.

                Assistimos na discussão do Plano Nacional de Educação, seguida dos planos estaduais e municipais, uma cruzada reacionária contra o que chamam de “ideologia de gênero”. A bancada fundamentalista retirou onde pôde quaisquer menções aos estudos de gênero dos planos. Os medievais parlamentares chegaram ao ridículo de remover em uma cidade a expressão “gênero alimentício”.  Tudo feito em nome da “moral e dos bons costumes”, da “defesa da família tradicional”.

A consequência de levar adiante a política dos fundamentalistas é um reforço de práticas excludentes e violentas na escola em relação aos LGBTQIA+. Um retrocesso quando observamos que desde a década de 90, com os Parâmetros Curriculares Nacionais, a abordagem das relações de gênero e da orientação sexual estava presente nos temas transversais.

O Recife não escapou desta agenda fundamentalista para a educação. Em 2015, destaques da bancada fundamentalista retiraram do Plano Municipal de Educação as menções ao gênero como temática a ser trabalhada. No ano de 2016, um dos vereadores mais influentes da câmara municipal propôs um projeto de lei (PL) para retirar das escolas os livros que tratassem de gênero e sexualidade. A iniciativa foi batizada pelo movimento como PL da Caça aos Livros.

Graças à resistência organizada de uma articulação de movimentos sociais, ONGs, sindicalistas, ativistas dos direitos das mulheres e das LGBTQIA+, o projeto de lei não prosperou. Das lutas para impedir o retrocesso na educação que o fundamentalismo religioso tentava impor no parlamento, surgia em 2016 no Recife a Frente Pela Diversidade. Uma experiência exitosa que buscou nos meses seguintes construir uma agenda de trabalho que nos retirasse da incômoda posição de apenas frear o retrocesso. A campanha “Educação com Igualdade”, que tratava das relações de gênero na escola, foi o principal fruto daquela articulação.

Estamos em 2021 e o fundamentalismo religioso encontrou uma nova pauta para mobilizar o ódio contra as pessoas LGBTQIA+. Os mesmos que inventaram a “ideologia de gênero” para reforçar violências contra mulheres e LGBTQIA+ agora querem impedir o uso da linguagem neutra nas escolas, interferindo na autonomia pedagógica de docentes e mesmo o uso de determinadas palavras/expressões por estudantes. Projetos nesse sentido já tramitam na Câmara Federal, na ALEPE e na Câmara do Recife.

Sabemos que as línguas como a portuguesa são vivas, possuem variabilidade, estando em transformação ao longo do tempo e em cada lugar. Mas não é esse debate que os fundamentalistas pretendem fazer. A tática deles permanece a mesma: levar o jogo para um terreno discursivo formatado para mobilizar o pânico moral que lhes dá um saldo eleitoral. Não podemos cair nessa armadilha. Por isso, acredito que é necessário estarmos vigilantes com a tramitação dessas propostas, discutindo coletivamente como confrontá-las. Elas expressam a continuidade de um projeto fundamentalista para a educação brasileira.

Precisaremos então nos perguntar: qual o nosso projeto? Como dar passos na direção de uma escola que não produza os tristes relatos de pessoas LGBTQIA+ que abandonaram seus estudos? O combate aos projetos fundamentalistas é importante na disputa pelo sentido da educação e da escola. É preciso recuperar a experiência da Frente Pela Diversidade para resistirmos a estes projetos, mas também para imaginarmos uma escola engajada na superação da lgbtfobia,do machismo, do racismo... e darmos passos firmes na sua direção.


**TEXTO PUBLICADO ORIGINALMENTE EM Rede Meu Recife

X Seminário Paulo Freire

 Neste ano comemoramos o centenário de Paulo Freire, Patrono da Educação Brasileira. As comemorações estão em curso no Brasil e no exterior como afirmação do reconhecimento e do profundo respeito a este educador do mundo, nascido na cidade do Recife, Pernambuco, Nordeste do Brasil.

A Cátedra Paulo Freire da Universidade Federal de Pernambuco,  inscreve-se nas comemorações por meio de um conjunto de atividades promovidas pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), um dos contextos da tessitura do pensamento político –pedagógico freireano com a realização do X Seminário Paulo Freire/VIII Encontro de Cátedras, Grupos, Núcleos e Centros de Estudos Paulo Freire . 

O X Seminário Paulo Freire/VIII Encontro de Cátedras, Núcleos, Grupos de Estudos e Centros Paulo Freire, ocorrerá nos dias 04, 05 e 06 de maio próximo, de modo virtual,  abordará o tema 100 anos de Paulo Freire - dos tempos fundantes à contribuição planetária. 

O evento propõe uma extensa programação que poderá ser acessada  http://www.catedrapaulofreireufpe.orghttps://www.even3.com.br/xspfvedcngdeecpf2021/



segunda-feira, 26 de abril de 2021

Congresso de Pedagogia UNIFACOL - 2021


 

CONGRESSO DE PEDAGOGIA UNIFACOL 2021

Evento totalmente online e gratuito, com emissão de certificado de participação. 
Haverá publicação de e-book (anais do evento), com ISBN. Aberto para estudantes, professores e profissionais da educação em geral, e a todos os interessados nos temas.

Já está aberto o período para submissão de propostas de minicursos e oficinas: de 23 a 29 de abril.
Para submissão de trabalhos (resumos expandidos e relatos de experiência), o período vai de 03 a 10 de maio.

Inscrições gratuitas no Congresso: de 03 a 19 de maio.


UNIFACOL - Centro Universitário Facol
#CongressoDePedagogia
#congressodeeducação


Políticas e Reformas Educacionais


 

Semana de Pedagogia da UPE - 2021


 


A Semana de Pedagogia da UPE - Campus Petrolina está com inscrições abertas, com apresentação de trabalho. A atividade vai ocorrer remotamente, nos dias 20 e 21 de maio, e as inscrições são gratuitas.

Na programação constam várias atividades, tais como: oficinas, minicursos, mesas-redondas e saraus.

A Prof. Dalila Andrade de Oliveira é nossa conferencista, com o tema: a formação docente em tempos de crises.

Visitem a página do evento:

https://www.even3.com.br/sap2021