sexta-feira, 10 de setembro de 2010

EDUCAÇÃO PÚBLICA: "Estudantes e MST ocupam o latifúndio do saber"

Estudantes e MST ocupam o latifúndio do saber

Em 18 de Agosto de 2010


Os estudantes, com um mundo sempre mais generoso para eles, mostraram que o saber não está totalmente a serviço do poder e que nem todos são delinquentes que fazem fé de apolíticos, para servir a política do poder. Por Passa Palavra



Nesta terça-feira, 17/08/2010, a cantina desativada do Instituto de Artes da Unicamp [Universidade Estadual de Campinas, uma das mais importantes do Brasil] foi recuperada pelos estudantes de vários cursos desta universidade.
Ocupada inicialmente uma semana antes (e trancada e vigiada pela segurança da universidade), a cantina foi recuperada com uma pauta qualitativamente distinta de uma série de ocupações já realizadas em distintos momentos e em variadas universidades.
Recuperaram o espaço, dito público, para denunciar que empresa e sociedade não são sinônimos e que esta última tem como substantivo os excluídos (da terra, do emprego, dos direitos, da universidade). Estão na cantina para criar um espaço de outra convivência e outra sociabilidade, utilizando-a para a venda de produtos da reforma agrária e de outros processos que financiem a luta, para a discussão de temas que não se encontram nas grades curriculares e também com pessoas que não possuem registro acadêmico, pessoas que, contudo, estão na sociedade e sustentam a universidade, como os sem terra, os sem emprego, os trabalhadores terceirizados e precarizados…
Com este espírito, a recuperação da cantina ocorreu junto com trabalhadores do MST. Juntos, estudantes e sem terra construíram barracos de lona preta, plantaram mudas de árvores frutíferas e canteiros de ervas. Debateram as dificuldades e as necessidades das lutas para além dos muros da academia, para a melhoria das condições de vida da maioria da população.
Curiosamente, a recuperação do espaço foi beneficiada pelo fato dos vigilantes terceirizados estarem em greve pela falta de pagamentos, irregularidades de contrato de trabalho, perseguições e, invariavelmente, a demissão e renovação do quadro de funcionários após 3 meses.
Os agentes da repressão sendo reprimidos contestaram a ordem. Os estudantes, reprimidos e tolhidos constantemente, mas com um mundo sempre mais generoso para eles, mostraram que o saber não está totalmente a serviço do poder (capitalista) e que nem todos os acadêmicos são delinquentes que fazem fé de apolíticos, para servir a política do poder.
Uma tática antiga dos poderosos é lançar categorias profissionais umas contra as outras, minando sua unidade. Viu-se isso claramente na greve dos professores e funcionários das universidades estaduais paulistas neste mesmo ano. Os estudantes ocupados da Unicamp parecem ter aprendido esta velha lição ao tentarem na prática, e não meramente em seus discursos, distanciarem-se de reivindicações somente corporativas e, pelo contrário, ampliarem sua ação para a unidade de luta com movimentos sociais, como o MST, e setores populares.

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